Essa fotografia da minha avó, caminhando pelo quintal da casa onde passei os melhores momentos da minha infância, carregando um pedaço de massa que está prestes a se transformar no macarrão que ela fazia tão bem, é a melhor fotografia que existe pra mim, no mundo. Minha avó, que já partiu para um lugar melhor, era uma cozinheira de mão cheia. Ela era uma daquelas pessoas sisudas, forjada pelas vicissitudes da vida, que não expressava seus sentimentos. Era através de seus pães quentinhos saídos do forno que ela comunicava todo seu afeto pela gente. E essa é a fotografia que mais me aproxima e me faz lembrar e me transporta pra esses momentos.
Essa é a essência da fotografia pra mim.
Eu fotografo pessoas reais e estou ali para contar suas histórias, do jeito que elas são, sem interferir nos acontecimentos. Acredito que nenhuma pose-padrão ou modismo deve se impor ao que está diante dos nossos olhos, pois a vida real, fora do porta-retrato, não é perfeita. As vezes, ela é desarrumada, fora de foco. É feita de lapsos, de momentos inesperados. A revelação fantástica desses momentos tem sua beleza acentuada pelo acaso. Por isso dou boas vindas ao que não é convidado e favoreço acidentes. Porque é nesse átimo de segundo, imprevisto e registrado, que nos reconhecemos.